A22 - CHACOTA INTERNACIONAL

domingo, 15 de abril de 2012 |

A presente reportagem (fonte: "Observatório do Algarve") só demonstra como os nossos governantes envergonham o nosso país através da introdução de portagens na A22!


Será que ainda não perceberam que com a introdução de portagens na A22 só veio piorar a economia algarvia e nacional????


"António e Yolanda, espanhóis que querem ir para a Lisboa, acabam de entrar na fronteira portuguesa de Vila Real de Santo António e decidiram parar para tentar pagar portagens. Do lado de lá, ouviram dizer que se pagava, tentaram nos Correios em Espanha, tentaram a internet. “Nada, isso era mentira!”, protestam.

Agora, estão frente à máquina automática – em breve serão duas – junto ao Posto Misto de Fronteira, querem perceber mas… está difícil. Primeiro, a máquina apresenta as soluções para quem quer circular na A28 e A41 (Porto). Só depois aparece a A22 no Algarve. Carrega-se no ecrã, aparece o valor a pagar: €20,62. “O quê? É uma barbaridade!”.

Muitos dos turistas decidem-se pela nacional, um ou outro, tal como Malcolm Golding, camionista de Manchester, decidem não pagar: “Não consigo a Via Verde, porque para isso precisamos ter cá conta no banco e não temos. Na Hungria ou na República Checa, dão-nos uma box grátis e temos que carregá-la para poder circular, mas existe alguém no posto fronteiriço, aqui não”, critica Malcolm. Por isso, pega no camião TIR e segue à borla.

A Malcolm, nada lhe acontecerá, bem como a todos os automobilistas com matrícula estrangeira que circulem nas ex-SCUT. Porquê? O sistema eletrónico de cobrança assenta na leitura de um chip ou na identificação das matrículas mas não reconhece as ‘chapas’ estrangeiras, uma vez que as bases de dados não permitem ainda o cruzamento de informação com outros países.

Teriam que ser os fiscais das concessionárias a apanhar os infratores. Mas só com a ajuda da polícia. Segundo o artigo 4º da Lei 25/2006, que regula as transgressões face a taxas de portagem, “os agentes de fiscalização podem, com a intervenção da autoridade policial, mandar interromper a marcha do veículo em causa, tendo em vista o pagamento imediato do valor da taxa de portagem”.

O problema é que até hoje, nunca a GNR se encarregou de fiscalizar quem quer que fosse sobre essa matéria, a exemplo do que acontece com o Imposto de Circulação, desde que passou para a alçada da Autoridade Tributária: “Não cabe nas nossas competências, nem nas SCUT nem nas autoestradas, nunca houve qualquer fiscalização nesse sentido porque isso é um ato meramente administrativo de cobrança”, explica ao Observatório do Algarve o Tenente-Coronel Luís Sequeira, do Comando da GNR de Faro.

SCUTs entopem rent-a-car com papéis

E se o caso não é fácil para os automóveis particulares, menos o é para as empresas de carros de aluguer . Mais um casal que para junto à máquina. São de Amsterdão, vieram de avião para Faro, têm o hotel na Isla Antilla e entram agora em Portugal com um veículo de matrícula portuguesa alugado.

O que fazer? “É um sistema muito complicado, esta área precisa dos turistas, deviam fazer qualquer coisa!”, protestam. Para já, o melhor será tomarem notas à medida que passem nos pórticos, para darem em mãos o dinheiro à rent-a-car.

Isto porque dado que o sistema que identifica as matrículas só disponibiliza o pagamento 48 horas depois, a maioria dos turistas já não estará cá quando essa hora chegar. A fatura sobra sempre para o mesmo, a rent-a-car. “Há clientes que tiram notas, veem o valor nos placards e depois dão-nos o dinheiro, mas a maioria não paga. Isto é uma chacota nacional porque as pessoas falam mal do país”, lamenta Honório Teixeira, administrador da Visacar.

Domingo Carro, da rent-a-car espanhola Vostokcar, paga os €20 na fronteira, mas mesmo assim está aflito: “Se a polícia me parar não sei como fazer, porque estes automóveis já circularam várias vezes com pessoas que talvez não tenham pago. E se uma pessoa vem a conduzir e paga, mas o anterior não pagou? Será multado?”. As dúvidas, já as colocou mais que uma vez por escrito à Estradas de Portugal, mas até hoje não obteve resposta, tal como os leitores do Expresso, que também procurou informação junto da empresa.

As falhas de um sistema mal pensado custam caro, implicam vários portes de correio e até mais funcionários só para lidar com a burocracia. Nas rent-a-car, a maioria dos automóveis está em leasing, a matrícula identifica as locadoras e portanto isto implica um esquema burocrático intenso na busca de quem deve a portagem.

Por vezes, em importâncias pequenas, sairá mais caro o processo de cobrança, tendo em conta que muitos dos condutores são estrangeiros. “O Governo foi alertado para esta situação já em 2009, o sistema não está desenhado para nós, mas isso não foi acautelado em devido tempo e há empresas que estão a receber 700 pedidos por dia”, critica Joaquim Robalo de Almeida, da Associação dos Industriais de Aluguer de Automóveis sem Condutor (ARAC).

Ao todo, em Portugal, há cerca de 70 mil carros de aluguer e a maioria não possui dispositivos eletrónicos. Primeiro pelo custo dos equipamentos, que ronda os €25, mas sobretudo porque ainda está a ser criado o sistema para associar o identificador aos cartões de crédito ou débito do utente que aluga o automóvel, de modo a facilitar a cobrança automática.

Caso bicudo é também o do transporte de automóveis em cima dos camiões. Nos pórticos, quantas passagens cobrarão as concessionárias? Uma só classe 4 (do TIR), ou múltiplas classe 1? O tema está agora em cima da mesa do Governo, e junta a ARAC, os CTT, o Instituto Nacional de Infraestruturas Rodoviárias e Estradas de Portugal em torno de uma portaria que deverá estar pronta antes do verão.

Sistema espanta turistas

“Num levantamento feito em Tavira e Vila Real de Santo António (VRSA), tivemos quebras da ordem dos 70 por cento”, constata o presidente da Associação de Comerciantes da Região do Algarve. João Rosado sabe que os espanhóis são boa parte dos consumidores em especial junto à fronteira.

Após as portagens deixaram de vir, por medo e confusão. “Até hoje não foi feita uma campanha a sério de esclarecimento sobre isto e nós não temos recursos para fazê-lo”, reclama enquanto reivindica um estudo para avaliar o impacto das portagens na economia regional.

João Campos, de uma rede de lojas, em VRSA, sentiu na pele a deserção dos espanhóis. “Isto ficou vazio, nada. Depois, começámos a fazer uma campanha nas rádios locais por nossa conta e mais tarde com a ACRAL a distribuir folhetos, a explicar que até Montegordo podem vir sem ter de pagar portagens”, recorda.

Resultado: a 28 de Fevereiro, feriado que é o Dia da Andaluzia, a cidade raiana do Marquês de Pombal falava espanhol. Mas compras, isso já é outra coisa: “Houve uma ligeira melhoria, mas nada comparado com os números anteriores”, reporta Luís Camarada, proprietário de 11 estabelecimentos de restauração e hotelaria em VRSA.

Vítor Oliveira, da casa Simon, sabe bem do que fala Camarada. “Dantes, não havia nada que não se vendesse, agora vêm 4 ou 5 camiões de excursões de espanhóis, levam panos de €2 ou €3. Em toda a manhã, vendemos para aí €20 de produtos”, constata. Se soubessem, tal como Miroslav, que podiam andar à borla, talvez gastassem mais. “O dinheiro que não pago em portagens, acabo por gastar em comida ou bebida, coisas que dão verdadeiramente emprego e dinamizam a economia”, filosofa este empregado de bar em Ayamonte.

Entre uma tapa e outra, Miroslav confessa que sempre que vem a Portugal, é raro pagar portagens, quer seja em SCUT ou em autoestradas, pela Via Verde. Até hoje, nunca recebeu uma multa e se esse dia chegar, espera não estar em casa para a receber."




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